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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

REGULAGEM DE BARCOS - PARTE 4 - Tipos de braçadeiras

Nos barcos a remo, as potências desenvolvidas pelos remadores, devem ser aplicadas ao barco, para que este se desloque na água, com a maior eficiência, e a menor agregação de peso ao conjunto.

É um dos problemas construtivos que mais tem influenciado na engenharia naval relacionada com o esporte do remo.

Uma maneira elegante de representar este problema, é utilizar "linguagem técnica".

Por exemplo, dizendo que a potência é exercida mediante vetor (vide nota 1 ao final), cuja definição clássica em geometria, é "segmento de reta orientado".

Em palavras mais simples, a potência há de ser transferida mediante um "ponto de apoio" da "alavanca" (remo) fixado ao barco (é a forqueta!).

No princípio os barcos eram bem largos, os remos relativamente curtos, então o ponto de apoio (forqueta) se situava na "borda" do barco.

No entanto, a evolução acarretou o estreitamento dos barcos, e alongamento dos remos, até que alguém imaginou colocar o "ponto de apoio" (forqueta) distante da borda dos barcos.

Para distanciar as forquetas das bordas dos barcos, foram usados canos, comumente denominados de "braçadeiras".

Essa expressão (braçadeira) se origina do inglês "rig", ou "riggers", e o ato de construir ou regular as braçadeiras, se chama "rigging".




Quanto ao sentido da transferência de forças:

Tensional => A potência resultante do movimento de alavanca do remo, aplicado na forqueta, resulta num vetor horizontal (em relação à água) em que o segmento de reta orientado "a" => "b" onde construção será tal, que o ponto "a" estará mais à popa em relação à forqueta, e o ponto "b" (onde se aplica a potência) será a forqueta. Também chamado de tração, carregamento, ou popularmente "puxar".

Compressional => A única diferença em relação ao tipo tensional, é de que neste caso, o ponto "a" será a forqueta (ponto de aplicação da potência) e o ponto "b" estará situado mais à proa. Também chamado de pressão, ou popularmente, "empurrar".
Tensional-compressional => O ponto de apoio da potência (forqueta) é situado aproximadamente "no meio" de dois segmentos de reta, gerando portando dois vetores, um deles tensional e outro, compressional.


Geometria das braçadeiras
Desde que foram inventadas braçadeiras externas aos barcos, vários desenhos foram adotados, em geral por tentativa e erro, e também tentando resolver problemas de construção do próprio barco de madeira.
Em qualquer caso, teremos duas funções na braçadeira, ao mesmo tempo, a saber, sustentação (impede que o remo afunde) e transmissão de força (transfere a potência do ponto de apoio para o barco).
Um dos problemas construtivos, é evitar que os vetores (tanto de sustentação como de potência) acarretem torção longitudinal ou transversal no barco, como também, resolver o melhor ponto de "descarga" da potência no barco em relação ao CG (centro de gravidade) da embarcação.

Imaginem resolver os problemas construtivos, quando se somam vários pontos de potência (barcos de dois, quatro ou oito remadores) ou então quando existe modificação na alternância dos pontos (por ex., utilizando-se o sistema "Motoguzzi").
Em geral, os vetores em braçadeiras podem ser calculados segundo sua orientação, conforme as regras clássicas, dos cossenos, do paralelogramo, ou de casos particulares como o dos vetores perpendiculares (S2=A2+B2), porém aqui não temos o objetivo de esgotar o assunto (vide nota 2 ao final).



Tipos de braçadeiras mais comuns:



1. Perpendicular de proa, ou "Harvard-Oxford"


Em termos vetoriais, trata-se da aplicação do sistema compressional. A braçadeira é composta por um braço de sustentação, geralmente perpendicular (90º) em relação ao barco e sustentado pelo "curvatão".
A resultante é transmitida por um outro braço colocado por davante (mesmo ponto geralmente utilizado para colocação do que chamamos de "5º braço", ou final do trilho) podendo usar concomitantemente o "5º braço" ou não.
Em termos construtivos, a braçadeira haverá de ser sustentada por um curvatão central muito forte, e a resultante necessita ser recepcionada por outro curvatão igualmente bem construído.
Caso clássico de braçadeira compressiva. O remador parece "empurrar" o barco.



2. Perpendicular de ré

É o inverso do sistema perpendicular de "proa".

Neste caso, a braçadeira é tensil. O remador parece "puxar" o barco.



3. Triangular

Neste sistema, dois curvatões de força são utilizados para suportar a braçadeira, sendo um logo atrás do fincapés, e outro na região do 5º braço (final do trilho), ambos servindo de sustentação.
Portanto eliminando a necessidade de um braço de sustentação no "meio". 
Neste caso, teoricamente há uma equivalência entre os vetores de compressão e tensão. 
É considerado o "text book", ou ideal em termos de braçadeiras para barcos de madeira.



Observação: A utilização de "5º braço" altera as situações clássicas. Apresentamos acima, as braçadeiras sem considerar uso de 5º braço.




EVOLUÇÃO DOS BARCOS, E A INFLUÊNCIA NA CONSTRUÇÃO DAS BRAÇADEIRAS
(BRAÇADEIRAS NA ATUALIDADE)

Como sabemos, as braçadeiras nasceram "depois" (ou como "consequência") da evolução dos barcos e dos remos.

A partir dos anos 70, construtores começaram a experimentar com materiais sintéticos, tanto para barcos como remos.
Naquela época, barcos de material sintético eram algo "exótico"; a regra eram os barcos de madeira.
Ao longo destes últimos 40 anos, chegamos ao ponto em que barcos e remos "de madeira" são hoje uma rara exceção, s considerados por muito apenas um testemunho de uma era passada, tornando-se objetos de "cult", ou então peças de museu, e em alguns casos, sendo utilizados como peças de "decoração".

Novas técnicas construtivas, determinaram a adoção de novas soluções para as braçadeiras.
No caso de barcos de fibra de carbono, é possível realizar a construção de praticamente 99% do barco com esse material já incluindo a própria braçadeira.

No entanto, as leis matemáticas e da geometria não foram alteradas, portanto os princípios descritos continuam plenamente aplicáveis, com um importante aperfeiçoamento, comentado a seguir.




Braçadeira auto-portante

Com a construção de barcos de material sintético (Kevlar, carbon-fibre etc.), popularizou-se um tipo de braçadeira cujo "braço de suporte" se resolve em sí próprio.
Ou seja, pelo método auto-portante, não é necessária a presença de um "curvatão" clássico, mas sim e apenas, um reforço no casco e na "borda" do barco para "assentamento" da braçadeira.
Por razões estritamente biomecânicas (e na opinião do autor, por razões práticas) este tipo de braçadeira geralmente é "fixado" sobre a borda na altura do fincapé (mais à popa) ou na altura do "5º braço" (mais à proa).


Exemplo de braçadeira tensil auto-portante:


Barco: Skiff Vicente Dors, 2011
Foto: Do autor, 3/set/2011

Este tipo de construção "resolveu" vários problemas construtivos, tais como, torção (praticamente anulada) e facilidade de desmontagem-remontagem (é possível realizar estas operações, visando transporte, sem que a "regulagem" seja alterada).
Nota-se uma tendência dos construtores em optarem por braçadeiras auto-portantes compressionais (tipo perpendiculares de proa), o que faz muito sentido na medida em que os detalhes de construção permitem a eliminação do 5º braço. Para que "apenas um cano" sirva de sustentação, tração e compressão e também se elimine o 5º braço, é necessária uma qualidade de construção e seleção de materiais muito apurada.
Lembrando que o sistema "auto-portante" não é novidade. Vejamos a seguir.



Braçadeira auto-portante "barco asa"

No passado existiu uma braçadeira auto-portante em que não era "o carrinho" que se movia, mas sim, a própria braçadeira.
No Brasil, barcos assim ficaram conhecidos como "barcos asa".

Em inglês, a denominação é "roller riggers" ou "sliding riggers" isto é, braçadeiras que rolam ou movem (em oposição a "sliding seats", bancos rolantes ou deslizantes).

O ponto alto desse tipo de construção, ocorreu com as vitórias de Peter Michael Kolbe em 1981 (campeonato mundial) usando um barco construído pela Enpacher, a partir de projeto do famoso remador, engenheiro, doutor em biomecanica etc. Volker Nolte.
Porém pouco tempo depois este tipo de braçadeira seria "banido" pela FISA.
Seja como for, este curioso sistema praticamente anulava a arfagem, pois o remador ficava "sentado" num ponto e todo o resto é que se movia. Os resultados em competição provaram esse ponto de vista.
Tanto é assim, que um dos supostos motivos para banimento, é que a adoção desse sistema promovia uma "vantagem desleal" para quem o usava, o que, aliado ao motivo "econômico" (poucos clubes teriam capacidade de bancar barcos com essa tecnologia) teria levado ao banimento.
As razões do banimento também passam por teorias conspiratórias (influência de Melchior Burgin, da Stampfli, que era concorrente da Enpacher... entre outras histórias e estórias).
Embora os fatos mais visíveis e "sensacionais" envolvendo este tipo de braçadeira tenham ocorrido no final dos anos 70 e começo dos anos 80, o fato é que este tipo de braçadeira foi patenteado em 1883, por William John James, Inglaterra ou até antes, em 1876, por Blakeman Jr, nos EUA.



Braçadeira auto-portante "central"

O autor deste artigo "imaginou" a possibilidade de uma braçadeira auto-portante, que poderia possuir apenas um braço (como muitas auto-portantes já existentes) porém este braço coincidiria exatamente com o MCL.

Para tanto, bastaria que o construtor do barco "integrasse" a braçadeira ao casco no momento da construção; visto longitudinalmente, é como se a braçadeira fosse realmente uma peça em "U".

A grande desvantagem, é que a braçadeira não poderia ser desmontada. Ao contrário, poderia se chegar ao ponto da moldagem já prever o reforço e as "abas".

Um dia quem sabe convenço o Vicente Dors a fabricar um protótipo...
No entanto, não acredito que este esforço construtivo acarretasse ganho significativo de performance (explicação mais detalhada a seguir). 




Comentários sobre equilíbrio, balanço e desempenho em relação aos tipos de braçadeira

A remada é um movimento cíclico; entrada da pá do remo na água, aplicação da potência, extração da pá do remo da água, recuperação ou devolução, movimento do carrinho até a ré, e novamente entrada da pá do remo da água.

Como esse movimento implica em"idas" e "vindas" do remador (carrinho em sentido à proa, e depois à ré; braços que puxam e depois esticam etc.), a "inversão" do sentido desses movimentos implica em princípio, numa anulação de movimento em algum ponto. Em inglês, essa anulação se chama "check" ou "checking".

Muitos técnicos de remo notam que os remadores produzem mais ou menos "afundamento" da proa ou da popa; vide arfagem.

Imagina-se que quanto mais "estável" ou equilibrado se apresentar o "movimento" do barco (quanto menos arfagem), melhor será o desempenho do barco, porque menor será a alteração da linha de água etc.

Pois bem, um barco a remo possui metacentros (MC), e neste caso específico interessa definir o metacentro longitudinal (MCL), onde as forças de flutuação se anulam. Admitindo que esse ponto coincida com o centro geométrico, então num barco de 8 metros de comprimento, o MCL estará situado na cota 4mt. ou aproximadamente na altura do "antigo curvatão central" ou, em algum ponto do trilho.

A partir desses pressupostos genéricos, conclui-se que pelos sistemas de braçadeiras tradicionais, a "potência" desaguará mais à proa (compressional) ou "puxará" mais atrás (tensional) acarretando em teoria, alguma espécie de disturbio no metacentro.

O autor deste artigo, é de opinião que a "arfagem" é muito mais resultante da grande massa representada pelo remador se deslocando ao longo do trilho, do que do descasamento entre o ponto de aplicação de potência e o MCL.

Talvez até, a localização ou tipo de braçadeira, principalmente se for auto-portante, terá significado desimportante.

Uma das formas de demonstrar o fato, é mediante imaginar uma situação extrema (reductio ad absurdum).

Tomemos um cano de 6 ou 8 metros nas mãos. Se nosso objetivo for "transportar" o cano, então o nosso movimento natural de conforto será equilibrar o cano com as duas mãos na altura do "centro de equilíbrio", que naturalmente estarão situadas equidistantes em relação ao "metacentro" mas não no próprio MCL.

Pois bem, se formos usar esse "cano" para saltar, notaremos que o fato de estarmos com as mãos deslocadas em relação ao metacentro, pouca ou nenhuma diferença fará (a posição das mãos praticamente se anulará). O que realmente fará diferença nesse caso, será deslocar as mãos para a ponta do cano.

Neste exemplo, estamos experimentando a questão "rotacional" ou seja, o quando a potência da remada tem capacidade de "elevar" ou "afundar" o barco, e isso pressupõe que o remador "erga" o remo ou o "afunde", e é apenas nessa circunstância que o vetor resultante (descendente ou ascendente) irá influenciar (afetar, interferir, desequilibrar) o MCL.
Uma outra prova de que o "ponto" de aplicação da potência pouco influi no desempenho do barco ou na arfagem, está no extraordinário ganho obtido com o sistema do "barco asa", já comentado neste artigo.
Ora, no caso do "barco asa", é evidente que o vetor estará deslizando ao longo do barco (portanto descasando do MCL) comprovando-se assim, que a arfagem é muito mais resultante do desequilíbrio causado pela massa do remador, do que por escolha do ponto onde a potência será aplicada no barco.

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Dedico esta resenha, aos amigos Edson Ache Jr, Stefan Genthner, e Vicente Dors.


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Notas:

1 - Em latim, "vector" possuía entre outros possíveis significados, "carregar" ou levar.

2 - Além de aspectos de geometria e de construção, existem considerações a respeito do "shape" das braçadeiras, que podem ser "aero" (a forma mais usual encontrada em braçadeiras de fibra de carbono), redondas, ovais etc., em geral o formato tem a ver com a resiliência do material empregado e a necessidade de proporcionar o melhor suporte (apoio vertical) para o remo.


Segue na Parte 5 (atualmente em fase de revisão) 

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

OURO PARA O BRASIL

Fabiana Beltrame acaba de conquistar o ouro, na prova do Single-Skiff feminino, em BLED - SLOVENIA.

VÍDEO com narração em português

Ganhou com uma sólida estratégia, e dois barcos de vantagem na chegada!



quinta-feira, 1 de setembro de 2011

MUNDIAL DE REMO EM BLED - ESLOVENIA

Fabiana Beltrame do Brasil, passou a semi-final hoje (01/09/2011) agora é a torcida pelo OURO.

Para assistir aos vídeos das provas, acessem a Eurovision

Para assistir a prova da FABIANA, também pode ver com narração em português, aqui

Minhas provas preferidas são do DOIS SEM, hoje tivemos uma chegada sensacional no 2-S masculino peso leve (no site da Eurovision, procurar por Lightweight Men's Pair - Semifinal A/B1)

(dica do Gláucio Correa)

sábado, 13 de agosto de 2011

REGATA EM BLUMENAU 27/08/2011

Será no próximo dia 27/08/2011 em Blumenau.

De Curitiba seguirá a guarnição Double-Skiff formada por Leandro Balaroti (Voga) e Gláucio Corrêa (Proa) pelo Clube de Regatas Y-Guaçu



Maiores detalhes na sequência.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

RESENHA - Turismo em NEW YORK remando... UMA TRIREME HELENICA!

Estão abertas as inscrições para voluntários para REMAR uma legítima TRIRREME ATENIENSE!

A data do evento está (provisoriamente) marcada para 4 de Julho de 2012 e a "raia" será a BAIA DE NOVA YORK.

Quer se sentir como coadjuvante no filme BEN HUR?

Quem sabe, um novo Charlton Heston!

É só se alistar neste site !

Inscrições abertas para todos os sexos!




Lembrando que esta nave foi construída em 1991, e só deixou ATENAS uma vez, para visitar LONDRES.

É manejada por 170 remadores e/ou remadoras.

(será que foram remando de Atenas até Londres? Ou a pergunta mais importante do momento... será que vão remando de Atenas até Nova York?)

Η ΤΡΙΗΡΗΣ ΟΛΥΜΠΙΑΣ (nome da belonave no original) ou H. N. OLYMPIAS, é considerado o NAVIO mais veloz do mundo cuja energia é gerada exclusivamente por força humana, e é uma réplica em tamanho integral, inteiralmente funcional, da lendária trireme Ateniense do 5º Século Antes de Cristo.

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Nota:
Existem diferenças entre triremes gregas, e as romanas; quem quiser saber mais, veja este site sobre navios de guerra, muito interessante.
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O vídeo abaixo é sobre a trireme ateniense que vai fazer o "tour" pela Baía de Nova York:





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Para quem ainda não curtiu a cena de remo em BEN-HUR ... aí vai uma palhinha




Ou então assista a cena completa! Considerada como um dos ícones de "trabalho em equipe" no cinema.

Veja tamnbém uma mixagem, overlay mostrando um remador num single-scull:




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Pergunta-pegadinha:


Será que Charlton Heston (Ben-Hur) era realmente o VOGA da guarnição?


Pela filmagem, até "parece", não é mesmo?


Poste sua resposta ou palpite! As melhores serão comentadas num futuro post.


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Alguns fatos para quem gosta de histórias e estórias do REMO:

1. Ben-Hur com Charlton Heston (1959) foi um filme MUITO popular, ganhou 11 Oscars e faturou muitos prêmios mais, além de ser praticamente um "filme obrigatório" juntamente com outros blockbusters do gênero (Manto Sagrado, Quo Vadis et al)

2. Porém, houve OUTRO filme BEN-HUR (1925) que também foi imensamente popular em seu tempo, além de ter sido o MAIS CARO FILME SILENCIOSO já produzido. E tinha cena de trireme, e era com um barco de verdade!

Vejam a cena de remo deste filme:




3. Nas triremes haviam ordens de "velocidade" (acima da velocidade de cruzeiro) a saber, "battle speed" (velocidade de batalha) "attack speed" (velocidade de ataque) e "ramming speed" (era a velocidade máxima, quando a trireme abordava outro barco diretamente de frente com o "esporão" de proa, visando o afundamento do inimigo).

Daí que ...

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O Capitão da trireme chama a atenção da guarnição:


"Hoje tenho boas e más notícias para vocês!


A boa é que hoje é dia de folga!


A é que amanhã nosso imperador CESAR vai querer passear de JET-SKI"

(essa é do tempo das triremes, só dei uma atualizadinha!)


-x-

segunda-feira, 4 de julho de 2011

RESENHA: Novo barco do VICENTE DORS

Para quem não conhece, Vicente Dors é um entusiasta do remo, que se dedicou a profissionalizar a produção de barcos, através de sua fábrica Vitória Delta Compósitos sediada em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. O seu nome já é quase um sinônimo de barcos a remo entre os aficcionados.

Vicente esteve na Alemanha em Outubro/2010, estagiando na fábrica BBG, juntamente com outros fabricantes brasileiros de equipamentos para remo.

Semana passada Vicente divulgou via "Facebook" um novo produto, que ele mesmo define como um barco intermediário entre o "canoe" e o "skiff".

Vamos às fotos. Vicente avisa que o protótipo foi pintado dessa cor por razões práticas ... encomendas podem selecionar qualquer outra cor.


Notar que o barco possui uma quilha, e não possui "castelo de proa"



Dados gerais:

  • Comprimento: 6010mm
  • Largura: 590mm
  • Altura máxima: 332mm
  • Peso aproximado de 20K (sujeito a confirmação)
  • Largura do trilho: 280mm (é maior do que do Skiff, que em geral usa 240mm)
  • Material: Fibra de vidro (braçadeiras em alumínio, medidas não informadas)
  • Preço aproximado (Julho/2011, sem frete, dependendo do acabamento) R$4mil


Em entrevista por telefone para este BLOG nesta 2a. feira, VICENTE informou que o barco foi testado no Rio Guaíba, apresentando navegação similar a de um Skiff e também é mais "arisco" (suscetível a "virar") do que um canoe.

Outro ponto que o fabricante destacou, foi a previsão de "esperas" nas braçadeiras, para colocação de flutuadores, com vistas ao uso em provas para-olímpicas.

Ainda não realizamos um "test-drive" do barco, porém o fabricante informa que talvez realize uma "tournée" de exibição. Sujeito a confirmação!



FACILIDADE DE TRANSPORTE


Se este barco render um "PRAZER DE REMAR" bem semelhante ao de um skiff, poderá ser uma solução interessante para quem gosta de transportar seu barco em cima do próprio carro usando um "rack".

Esta é a solução mais democrática, sem necessidade de recorrer a reboques, trailers, licenças de transportes especiais (AET) e complicatórios congêneres.

Em muitas cidades de nosso país, os "locais para remar" existem mas estão em pontos distantes. Ou então, o remador quer usar o barco quando vai à praia.

O barco não é propriamente um "ocean boat" mas tem tudo para enfrentar o mar em dias de pouco vento.

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Sobre transportes de barcos em carros de passeio, partilho com vocês, algum conhecimento que andei pesquisando (quem souber mais, favor postar).
Em geral, os fabricantes de veículos de passeio recomendam que "racks" somente sejam utilizados para carregar até 40Kg - portanto, este barco atende ao parâmetro.
Recomenda-se seguir as instruções do fabricante do veículo quanto à escolha e instalação de racks. Em muitos casos, a instalação correta somente é viável mediante furação do teto, e portanto, torna-se "permanente".
Para transportar um barco como este, poderá ser usado um rack comum, porém é altamente recomendável encomendar um rack especial, ou então, mandar confeccionar um "rack para colocar sobre rack" (como se faz com os racks para bicicletas). Futuramente quero ver se posto alguma coisa a respeito, aqui no blog, mas por enquanto, aqui está um site de fabricante de rack que mostra uma foto - realmente simples de copiar.
Segundo informações do DETRAN-SP um veículo de passeio pode transportar carga externa com dimensões que não excedam à largura do próprio veículo, sendo que, no geral, a carga poderá ser "maior que o comprimento do veículo" em até dois metros, sendo 1m à frente, e 1m à ré.
Logo, se o "veículo de passeio" em questão tiver 4 metros de comprimento ou mais, poderá transportar tranquilamente este barco (que tem seis metros de comprimento).
Nota: deverá ser providenciado um anteparo (por exemplo, bola de isopor, facilmente encontrada em casas de artigos para festas, tamanho de uma bola de futebol) para "fincar na proa" e assim, tentar atender ao seguinte dispositivo:
"As cargas transportadas nas partes externas do veículo não poderão conter partes perfurantes ou cortantes, ou outras feições quaisquer que possam oferecer risco potencial aos usuários da rodovia".
Outra boa providência, é imprimir e carregar no porta-luvas, uma cópia da PORTARIA SUP/DER-023-03/04/1996 que fala de medidas para cargas. Vai que um agente rodoviário resolve puxar a trena. Puxando a "Portaria", estará falando na mesma língua. Por enquanto essa é a peça de legislação mais específica que encontrei... quem souber de algo mais abrangente, favor partilhar!
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RESUMO

Prós:
  • Produto interessante para quem já é remador e quer transportar seu próprio barco, inclusive para remar em águas não tão tranquilas;
  • Preço (inferior ao da maioria das bicicletas usadas em competições de Thriatlon e afins)
  • Durabilidade e resistência (se comparado a um skiff)
  • Baixa manutenção
  • Previsão de local para fixar estabilizadores (flutuadores) permitindo usar como barco-escola e outras utilidades 
  •  
Contras:
  • Falta fazer um test-drive! Daí poderemos criticar.

-x-

segunda-feira, 27 de junho de 2011

RESENHA: "ROWING MACHINE COMPANION" (DVD)

ROWING MACHINE COMPANION é a versão em DVD, de uma antiga gravação em VHS.

Pode ser adquirido na AMAZON, basta consultar pelo próprio título. Preço na faixa de USD13 mas com paciência garimpa-se um exemplar usado.

Curiosamente, a Amazon não indica quem é o produtor ou diretor do filme. Na caixa do DVD não encontramos informações sobre o local onde foi filmado, quem eram os remadores, data da filmagem... nada! Pelos barcos utilizados, e por ter sido lançado originalmente em VHS, eu estimo que o filme tenha sido rodado na década de 1980.

O titulo sugere (coerentemente) que se trata de um vídeo para quem vai praticar remo "indoors", seja em tanque-de-remo, ou em remo-ergometro de qualquer fabricante.

Os objetivos deste vídeo são ENTRETER e INCENTIVAR o remador durante a prática de exercícios no remo-ergometro.

A apresentação (primeira faixa) é minimalista, porém eficiente, mostra o "aquecimento" em diferentes tipos de remo-ergometro, sem necessidade de legendas. Subitamente a câmara corta para um barco na água, onde quem está assistindo ao filme "se sente" como se fosse o remador "na proa". A proposta consiste em que o usuário (quem está assistindo o filme) acompanhe o ritmo. O filme incorpora um conveniente cronômetro, permitindo ao usuário se situar dentro do treino proposto.

O notebook ou vídeo deverá ser colocado em local cuja visão seja confortável (altura dos olhos) em relação à posição de remar no remo-ergômetro ou tanque-de-remo.

O video apresenta "quatro treinos diferentes" (piramide, intervall etc.) em barcos também diferentes (ponta e palamenta).

É uma pena que não tenham sido lançados novos produtos, pois a idéia é boa. Poderiam variar os cenários, e também os treinos. Teríamos o prazer de remar em Lake Karapiro, ou naqueles magníficos lagos canadenses. Poderiam ainda, fazer versões "de competição", de preferência com o usuário no barco vencedor! Com a atual tecnologia, seria simples filmar de dentro de um barco olímpico, sem adicionar peso e nem atrapalhar a guarnição. A rigor, nada impede que se tente produzir algo semelhante aqui no Brasil.

A Concept2 e a Digitalrowing proporcionam uma experiência digital, através do Concept2, que permite remar "junto" ou "contra" outras pessoas (reais) através de conexão via Internet (é o ROWPRO sobre o qual falaremos em outra resenha) porém não é a mesma coisa, já que no  ROWPRO o cenário não varia e as pessoas são vistas através de "avatares", ou seja, é criado um "rio virtual" e lá podem coabitar até 16 barcos (apenas na modalidade Single-Scull ou 1X, até o momento).

RESUMO

Prós:
  • Produto interessante para quem tem um remo-ergometro ou tanque-de-remo (ótimo custo-benefício).
  • A idéia é boa, ao mesmo tempo em que incentiva ao exercício, proporciona um efeito relaxante, proporcionado pelos "cenários" do local onde foi filmado.
  • O produto está disponível para compra na internet.

Contras:
  • Desatualizado (e sem previsão de atualização).
  • O local onde foi filmado é interessante mas não chega a ser empolgante.

-x-

quarta-feira, 22 de junho de 2011

OURO EM HAMBURGO

O Brasil chegou lá, pelas mãos da Catarinense FABIANA BELTRAME!

Deu no FAUSTÃO

Parabéns FABIANA, pelo merecido sucesso!

domingo, 29 de maio de 2011

INAUGURAÇÃO DO BLOG - FASE DE TESTES

Seja bem vindo, amigo/a remador/a ou entusiasta/fã/parente de remador/a!

Por enquanto só comecei a publicar um artigo sobre regulagem de barcos, resultado da edição de anotações e observações coletadas ao longo de anos (mais precisamente, desde 1977)

Obrigado pela visita!

REGULAGEM DE BARCOS - Parte 3 - Arfagem, Rolagem, Guinada

Estes três termos de engenharia naval definem os movimentos de uma embarcação em torno de três eixos ortogonais que passem pelo CG da embarcação.

Arfagem - rotação em torno do eixo horizontal transversal à embarcação
Rolagem - rotação em torno do eixo horizontal longitudinal à embarcação
Guinada - rotação em torno do eixo vertical

A "rolagem" já foi mencionada no ítem 2 deste trabalho, e tendo influência menor, não será detalhada.

A "guinada" diz respeito ao desequilíbrio aplicado intencionalmente ou não, ao sentido de deslocamento. São exemplos: leme; quilha (se estiver colocada errada ou torta); remar mais forte com um remo ou com um bordo (intencionalmente ou por desequilíbrio entre alavancas ou bordos) etc.

Tomemos um "single-skiff".

O pressuposto básico é de que o remador desloca o barco com auxílio de alavancas (remos).

Porém, ao mesmo tempo, o remador se desloca sobre o barco, pois está sentado em um "carro", cujo comprimento em geral é de aprox. 80cm.

Em geral o trilho está situado sobre o "CG" do barco (centro de gravidade) ou seja, estes 80cm estarão "divididos" 40cm para a "proa" e 40cm para a "popa" em relação ao ponto exato do CG.

Logo, o ato de remar acarreta também, um movimento senoidal, que pode ser de "golfinho" ou de "serrote" - dependendo da técnica utilizada pelo remador (ou falta de).

Em outras palavras:

A "proa" do barco sofrerá uma "elevação" quando o remador estiver com o carrinho "mais à popa".

A "proa" sofrerá um "afundamento" quando o remador estiver com o carrinho "mais à proa".

Quanto mais abrupta for a oscilação (serrote), em tese pior para o seguimento; quanto mais suave (golfinho) melhor para o seguimento (melhor desempenho).

O "afundar da proa" é mais significativo quando o carro chega mais perto da "proa", porque nesse momento, o remador está finalizando a fase de "propulsão".

Ou seja, não é só o "peso" do remador que, por estar cêrca de 40cm adiante do "CG" do barco, que acarretará a "arfagem" ou "mergulho de golfinho" do barco, mas também o vetor da remada.

Determinadas características da técnica de um remador, também influenciarão nesse "afundar" ou "mergulhar", como por exemplo, o "sacar" da remada muito acentuado, ou "deitar" muito no final da remada, entre outros fatores.

Há quem entenda que a "braçadeira" possa ser redesenhada ou posicionada, para contra-atacar o problema da arfagem; de fato o "barco-asa" atingiu esse objetivo (tema da 4ª parte desta série de artigos) mas o tipo de braçadeira conhecida como "barco asa", foi banida pela FISA no começo de 1981.

O efeito "serrote" pode ser reduzido ou minimizado através de técnicas de remada, porém, não ao ponto de ser "eliminado", já que dinamicamente falando, ocorrem alterações de sentido (o carrinho "vai" e "volta"), pausa (na aplicação da força através da alavanca/remo) e vários outros fenômenos incidentes e dependentes da técnica da remada utilizada.

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Uma das grandes discussões entre as "escolas de remo", está entre a "enfase" que se deve dar no treinamento, à "tecnica" ou à "condição física".

As "escolas" ou filosofias de treinamento que enfatizam a "técnica" da remada, tendem a trabalhar intensivamente todas as etapas do ciclo de remada (ataque, ou pegada, propulsão, finalização, palamenta, recuperação ou devolução etc.) e nesse caso os técnicos terão uma atenção especial para a maior estabilidade da "linha de água", tentando aperfeiçoar a técnica do remador para que o barco tenha um seguimento similar o movimento senoidal suave (golfinho).

Por sua vez, as "escolas" que pregam o condicionamento físico como sendo prevalente sobre a técnica, entendem que eventuais "perdas" decorrentes da característica "serrada" da arfagem (proa que balança abruptamente) são largamente compensados pela fase de propulsão. Esta tese também defende que os "ganhos" que podem ser alcançados com o polimento da técnica, não são tão grandes quanto os ganhos alcançados com o fortalecimento dos músculos do atleta (força bruta).

Naturalmente, existem treinadores, remadores e até filosofias que tentam conciliar estas correntes.

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Concluíndo este tópico, vemos que, embora o esporte do REMO possa parecer "simples" por ser baseado em uma das mais antigas noções de física (a alavanca), o aperfeiçoamento é complexo, pois a soma de vários outros conceitos, simples ou não, eleva exponencialmente as opções de desenvolvimento.




Segue na Parte 4 com "Tipos de braçadeiras"

REGULAGEM DE BARCOS - Parte 2 - Sistemas de ondas geradas por barcos em deslocamento



2. SISTEMAS DE ONDAS GERADAS POR BARCOS EM DESLOCAMENTO

Qualquer barco imerso em um fluído (água), ao se deslocar, gerará um sistema de ondas.

Trata-se de uma proposição facilmente verificável até por empirismo, portanto, partamos desta frase como sendo verdadeira.

As "ondas" são "visíveis" nas laterais do barco.

Porém, as ondas não se limitam ao plano visível (horizontal-lateral).

Também são geradas ondas "verticais", ou seja, irradiando em todas as direções dentro da água (180º) inclusive, obviamente, em direção ao "fundo" do rio, lago ou raia.

Teremos também ondas sendo geradas no ar (e o consequente arrasto aerodinâmico) porém para os fins desta simplificação, não serão consideradas.

Num mundo ideal, estaríamos falando de um fluído hidráulico (água) absolutamente incompressível; não estaríamos contando os efeitos gravitacionais, nem a densidade do fluído, e a profundidade seria infinita.

A imagem abaixo, nos dá uma (vaga) noção dessa realidade física.




Pois bem, LORD KELVIN estabeleceu um modêlo para averiguar o "padrão" de formação de ondas por um ponto de pressão em um fluído não-compressível (geralmente, água), o que é conhecido como "Kelvin wave pattern".

Para os fins desta demonstração, interessa saber que, as ondas representam o resultado da pressão e do atrito do corpo em deslocamento, portanto, há aí uma troca física de energia; a qual, pode ser grosso modo traduzida assim:  

O avanço de um corpo imerso na água, substituindo o volume de água por seu próprio volume (displacement) resulta numa troca da energia necessária para produzir o avanço pela energia que se dissipa na forma de ondas.

Pelas figuras abaixo, vemos graficamente:






Pois bem, vamos imaginar um "barco" (single-skiff) que se desloque através de um canal muito estreito, digamos de apenas o suficiente para um "skiff" de 8 metros se deslocar (portanto, algo como 6 metros de largura, considerando o espaço necessário para os remos se movimentarem) onde as "bordas" sejam cimentadas a 90º, como se fossem as bordas de uma piscina.

Tomando das imagens anteriores, e imaginando que o barco se desloque a uma velocidade constante (empiricamente, a velocidade de treino é algo em torno de 12 a 14Km/H) é certo que as ondas criadas a partir do ponto de pressão (proa) irão "bater" nas laterais do canal e retornarão; como consequência dessa observação empírica, teremos dois fenômenos científicos, o primeiro (menos óbvio) que é a "borda" do canal afetando (comprimindo) o movimento da onda, e portanto gerando arrasto pois influi reciprocamente em toda a troca de energia que está se desenvolvendo; o segundo efeito (mais evidente), que é o "retorno" da onda (após "bater" ou refletir na borda do canal), criando turbulência ao reencontrar com o barco.

Neste caso, não estamos levando em consideração as "ondas" geradas pelos remos, cujas pás estarão praticamente raspando as bordas deste canal.

A partir dessas realidades, podemos concluir, sempre em termos genéricos e aproximados, que um skiff se deslocando num canal cuja profundidade seja menor do que o "ponto de arrasto" (ponto em que o "fundo" está tão distante, que não mais afeta o deslocamento do corpo no fluído), será diretamente afetado pela "profundidade menor".

Existem estudos para determinar se um corpo "longo" como um skiff, terá desempenho melhor ou pior conforme navegar em águas rasas ou mais profundas.

A pergunta que surge, é se entre barcos "maiores" ou "menores" de uma mesma categoria (digamos um skiff de 8,5m e outro de 7,9m) qual seria mais adequado para uma determinada profundidade?

Em uma super-simplificação, pode-se dizer, que em águas rasas um barco um pouco mais curto teria melhores resultados.

Porém, frisa-se que isto é uma generalização excessiva.

A "resposta" dada acima, somente sobrevive de várias "pressuposições", tais como, velocidade do barco, profundidades médias observadas em várias raias olímpicas e desconsideração das circunstâncias peculiares a cada tipo de barco e guarnição.

Estas "pressuposições" não prestam a a devida homenagem às (muitas!) fórmulas físicas e matemáticas necessárias para entender os fenômenos envolvidos no estudo de engenharia naval que precede a criação de um novo desenho de barco.

Neste tipo de "generalização", não se está levando em conta, que um contrutor de barcos, ao elaborar o estudo hidrodinâmico da SEÇÃO do barco a projetar, altera as seções conforme a área molhada e linha de água que deseja atingir, bem como, levando em conta o peso da equipe de remadores e vários outros fatores. Modernamente, há utilização de "canais de água" (similares dos túneis de aerodinâmica) para melhor avaliar os resultados.

Ou seja, o barco é mais longo ou mais curto, não porque o construtor imaginou o barco para águas rasas ou fundas, mas sim (ou em geral) porque tem em mente a relação entre o remador (ou equipe), o equipamento, e os objetivos a serem alcançados segundo o grau de especialização do remador ou equipe, e ainda, determinadas relações melhor estudadas em engenharia naval, entre a seção e o comprimento (como já mencionado na Parte 1 deste artigo).

(segue para a Parte 3)